EXPEDIÇÃO ÁGUAS DA BOCAINA - 2000
Organizado e coordenado pelo explorador documentarista Márcio Bortolusso, a primeira etapa do Projeto Águas da Bocaina resultou na descida das principais quedas do encachoeirado Rio dos Veados, configurando uma das primeiras expedições de Canionismo do Brasil (2000), na época com um dos maiores desníveis acumulados e até hoje com uma das maiores durações.
Segundo o saudoso mestre Carlos Zaith, o maior nome da atividade no Brasil, durante uma palestra no 2º Encontro Brasileiro de Canionismo, a expedição foi “um divisor de águas no Canionismo brasileiro, inaugurando um novo estilo de exploração anfíbia em nossas terras”, em uma época em que os raros praticantes espalhados em algumas poucas regiões do país se dedicavam basicamente à pratica desportiva - com seguras proteções fixas, desníveis acumulados entre 50 e 200 metros, com duração de no máximo um dia, fácil aproximação, resgate descomplicado, etc.
Durante os quase 10 dias de exploração de um dos trechos mais inóspitos da Serra da Bocaina, Márcio e seus companheiros de corda Adalberto Seiblitz, Hugo Shimazu, Frediano Teodoro e Rodrigo Rebouças adotaram uma logística minimalista com técnicas e equipamentos inéditos para a sua época, com ancoragens móveis e/ou naturais (ao longo de centenas de metros de trabalhos de corda), realizando direcionamentos em arbustos aéreos em perigosos rapéis de mais de 150 metros, encarando árduas aproximações de longas horas subindo e descendo morros (navegando quilômetros por mata fechada, às vezes caindo ou pisando sem querer em amigas peçonhentas), com mochilas de montanhismo adaptadas para o transporte de até 50 quilos por pessoa, madrugando abaixo de zero grau (sob sensação térmica de até -20ºC) e tendo que trabalhar diariamente durante longas horas em corredeiras gélidas e muitas vezes furiosas.
Décadas à frente do cenário mundial, que ao invés da imutabilidade do cenário priorizava acima de tudo a segurança do canionista (por meio da massiva instalação de sólidas proteções fixas), a equipe de canionistas empreendeu uma expedição de baixíssimo impacto, fixando apenas duas únicas proteções fixas (chapeletas) na última queda (de 40 metros) devido ao elevado risco de morte (micronuts e/ou fitas soltavam das fendas e das pontas de pedra).
Segundo Bortolusso, “todo esforço compensou diante das belas e virgens quedas descobertas e das muitas risadas com os meus fortes e leais companheiros, sem esquecer é claro da fundamental ajuda de uma incrível equipe de apoio, que incluiu em duas etapas os solidários Justo Alcazar, Charles Blagitz, Sam Chu, Thais Campas, Susi Souza, Marcos Rabioglio e Rô Brotto, e dos parceiros Half Dome, By, Mares e Sea & Sea, marcas que por muitos anos ajudaram a transformar os meus sonhos em realidade! Eterna gratidão!”