PIONEIRISMO EM CORRIDA DE AVENTURA
Essas são do tempo em que o atleta-documentarista Márcio Bortolusso vivia como um alucinado correndo por vulcões nevados, remando à noite entre grandes ondas no Pacífico, deslizando por cordas com precárias cadeirinhas improvisadas com fitas e mosquetões ou pedalando do Chile até a Argentina através da Cordilheira durante provas que duravam dias, por circuitos de até 650 km de extensão, sempre lado a lado dos líderes (literalmente) das mais duras corridas de Aventura do planeta – nos Alpes, Andes, Rochosas ou mesmo na Chapada ou no Cipó.
Época em que era preciso muito cuidado e habilidade para correr com uma câmera de vídeo e uma de foto, além de alguns quilos de lentes, baterias, filtros e dezenas de fitas Mini DV e filmes tipo slide (com no máximo 40 “poses” cada), já que ainda não existiam os drones e as portáteis e versáteis minicâmeras de alta definição tipo Go Pro.
E como era difícil para Bortolusso filmar um downhill extremo com apenas uma das mãos domando uma veloz bike (às vezes a mais de 60 km/h em ladeiras de cascalho repletas de tapetes de areia e precipícios em suas curvas), nadar entre corredeiras Classe II ou III sem molhar o seu caro equipo que não era à prova d’água ou dar conta de acompanhar sozinho caiaques remados em dupla ou atletas que levavam bem menos peso que ele e que se entupiam com algumas “pílulas mágicas” (sem falar nas horas de sono a menos).
Segundo vários campeões e organizadores de corridas de vários países, desde a metade dos anos 90 Bortolusso era o único a realizar esta improvável missão ao redor do globo, o que acabou criando um novo segmento documental (ainda hoje com raros profissionais). Verdade ou não, era preciso muita energia e sangue nos olhos para dar conta de acompanhar os mais premiados atletas do mundo desde a largada até a linha de chegada, o que gerou muitos convites para que Márcio fizesse parte de algumas renomadas equipes nacionais e internacionais.
Mas quem conhece Bortolusso sabe que óbvio que ele não aceitaria correr uma prova apenas por um troféu ou por um punhado de dólares. E para a alegria de alguns atletas ou dos organizadores que o contratavam, por mais de uma década ele felizmente teve a sorte de conseguir acompanhar uma equipe específica ou os vencedores de cada competição, sem nunca aceitar se inscrever como competidor, pois o seu desafio sempre esteve na capacidade de conseguir as tais “imagens impossíveis”, as imagens nunca antes registradas, provando para si mesmo que como documentarista seria capaz de cumprir o que sempre acreditou ser possível... até o dia em que as Corridas de Aventura perderam a graça para Bortolusso.
Mas novos desafios nunca pararam de atormentar a sua pobre alma, que cedo ou tarde sempre cede ao desejo e parte em busca de algo novo e ainda maior...